segunda-feira, 10 de junho de 2013

José Carlos Libâneo



Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos

Por: José Carlos Libâneo

Esse texto baseia-se na dura vida dos professores divididos entre o avanço na prática educacional e aceitar a forma tradicional onde se encontram os locais de ensino no país. A escola brasileira tem sido marcada de forma geral pelas tendências liberais, preparando os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, no sentido de reprodução dos valores e normas da sociedade. As tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas.
Os procedimentos didáticos e também os conteúdos, a relação professor e aluno não faz nenhuma relação com a rotina do aluno e muito menos com sua realidade social, portanto, a individualidade e a história desse aluno, são ignorados. O que vemos é a reafirmação, a repetição de um conceito.A tendência Liberal se divide em: Tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. A Pedagogia progressista em: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. Nos últimos 50 anos, a educação brasileira foi marcada pelas tendências liberais, ora conservadora ora renovada. A verdade é que não existem transformações consistentes nessas práticas que são obsoletas e pactuantes com esse sistema social capitalista em que vivemos. A globalização trouxe uma forma de mudança radical e irreversível causando uma enorme mudança o que afetou as estruturas as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva, a produção cultural e principalmente a vida na escola. A globalização não é um quebra-cabeça que se possa resolver com base num modelo preestabelecido e análise da mesma forma que a identidade que se afirma na crise do multiculturalismo ou quando a internet facilita a expressão de identidades prontas para serem usadas.
As tendências pedagógicas foram classificadas em Liberais e progressistas usando como critério a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos das escolas.
A Pedagogia Liberal
Para a pedagogia liberal as escolas devem preparar o aluno para viver em sociedade de acordo com a identidade e aptidão de cada ser. Para tanto precisam aprender a se adaptar às normas e valores que regem a sociedade de classes. Mas mesmo com a idéia de igualdade de oportunidades, a realidade dessas classes é escondida pelo engrandecimento cultural.
A pedagogia liberal iniciou com a educação tradicional, depois passou a se chamar de renovada e não foi uma substituição, pois ambas apresentam-se até hoje nas escolas.
Tradicional
O relacionamento entre professor e aluno praticamente é inexistente, sendo que a disciplina é imposta e deve ser respeitada para que o silêncio e a atenção sejam eficazes. Dessa forma, o aprendizado é repetitivo e mecanizado, sem dinamização e sem levar em conta as características de cada idade.
As avaliações são aplicadas as provas escritas e trabalhos de casa
e o reforço é de forma negativa e punitiva.



Em relação às tendências pedagógicas, é necessário afirmar que elas na aparecem puramente aparentes em sua forma, são exclusivas e ficam restritas de captação das riquezas da prática escolar.
A classificação das tendências promove uma maneira de análise para o professor avaliar o seu trabalho em sala de aula.

O termo liberal não é definido aqui como costumamos ouvir “livre”, “democrático” ele justifica o sistema capitalista que defendendo a predominância da liberdade e dos interesses da sociedade. Ela é uma manifestação individual dessa sociedade, denominada de sociedade de classes.

Os conteúdos de ensino são valores e conhecimentos adquiridos pelos adultos e repassados como verdades e os métodos são exposições verbais ou demonstração. A ênfase nos exercícios busca disciplinar a mente e formar uma rotina de hábitos.

Renovada Progressivista

Tem como finalidade adequar as necessidades individuais do aluno ao meio social. Os conteúdos são transmitidos pelas experiências de vivencia e desafios cognitivos, é mais importante aprender a aprender do que receber o saber propriamente dito.
Seus métodos de ensino valorizam a busca, a pesquisa, sempre levando em conta que se deve aprender fazendo. Destaca-se também a importância do trabalho em grupo como condição para o desenvolvimento mental. A relação entre professor e aluno visa auxiliar o desenvolvimento livre da criança e dar sentido ao raciocínio dela.

Renovada Não-diretiva

Preocupa-se mais com os problemas psicológicos do que pedagógicos, sendo que transmite como papel a formação de atitudes. A transmissão de conteúdos torna-se secundária visto que a ênfase é dada para o desenvolvimento das relações e comunicações. O professor se esforça para desenvolver um estilo próprio de ensino e assim, os alunos possam entender facilmente. Entre as relações de professor e aluno visam garantir um clima autêntico de relacionamento pessoal e para tanto o professor deixa o aluno a vontade e se ausenta em respeito ao aluno.

Tecnicista

O sistema é social, funcional e organizado, modela o comportamento do aluno através de técnicas específicas. Seu interesse imediato é produzir mentes competentes para o trabalho. Seus conteúdos de ensino são as leis, os princípios ordenados numa seqüência lógica e psicológica pelos especialistas. As relações são estruturadas: o aluno recebe, aprende e fixa todas as informações. A comunicação entre o professor e o aluno tem um sentido muito técnico para garantir a eficácia no aprendizado

Pedagogia Progressista

Parte de um sentido crítico das análises sociais e sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da escola. Tem se mostrado em três tendências: Libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos que diferente das outras, acentua a primazia dos conteúdos em confronto com as realidades sociais.
As tendências libertadora e libertária tem um sentido muito semelhante uma da outra, o anti-autoritarismo e a valorização da experiência vivida como base da relação de educação. Valorizam o processo de educação em grupo, participações em assembléias e votações mais do que os conteúdos de ensino.
A tendência crítico-social dos conteúdos propõe um cronograma que supera as outras tendências, valorizando as ações pedagógicas. A escola entende que existe a mediação entre o individual e o social.
O papel da escola como tarefa primordial é a difusão dos conteúdos, aqueles que são indissociáveis da realidade social. A própria escola é mentora na contribuição para eliminar a seletividade e dar abrangência a democracia. Se a escola é parte integrante do social, agir dentro dela também faz transformação rumo à sociedade.
Os conteúdos de ensino mostram que não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, mesmo que bem ensinados, é necessário fazer a mediação à significação humana e social, isto estabelece uma relação de continuidade que progressivamente passa de informações soltas para conhecimento sistematizado.
Dessas considerações percebemos que se pode ir do saber ao engajamento político e não o contrário, pois existe o risco de afetar a especificidade do saber e até mesmo cair numa pedagogia ideológica que é o que tanto critica na pedagogia tradicional.
Evidente que essa mediação exercida em torno das análises dos conteúdos exclui a não-diretividade como forma de orientação do trabalho escolar, pois é desigual o diálogo entre o professor e o aluno. Através de esforços próprios do aluno, ele se reconhece e o conhecimento novo se apóia na estrutura cognitiva já existente. Aprender com a visão da pedagogia dos conteúdos é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com estímulos.
Resulta com clareza que o trabalho que a escola realiza precisa de avaliação como julgamento definitivo e dogmático do professor, mas sem esquecer-se da comprovação para o aluno do seu progresso.


Biografia

José Carlos Libâneo, nasceu em Angatuba, interior do estado de São Paulo, em 1945 e fez seus estudos iniciais e o ensino médio no Seminário Diocesano de Sorocaba-SP.Graduou-se em filosofia na PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em 1966. MESTRE da educação escolar brasileira concluído em 1984 e DOUTOR em educação, posteriormente. Sua dissertação de mestrado em filosofia da educação mostra sua preocupação com as práticas pedagógicas. Em sua tese de doutoramento, deixa isso claro e examina sobre os fundamentos teóricos e práticos do trabalho docente. Libâneo é bastante conhecido no meio educacional pelas profundas contribuições teóricas que produz na área. Articula uma reflexão crítica sobre a natureza histórico-social dos conteúdos de ensino e a própria didática de transmissão destes conhecimentos. Ele ensina pesquisa e escreve sobre assuntos de teoria da educação, Didática, política Educacional e Escola pública. São atualíssimos os seus conhecimentos e seus compromissos com o projeto político pedagógico da escola. Iniciou suas atividades profissionais em 1967, como Diretor do Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental SP, por seis anos. Por três anos, fundou e dirigiu o Centro de Treinamento e Formação de Professores da secretaria da Educação Estadual em Goiânia em 1973. A partir de 1975, tornou-se professor da faculdade de educação da Universidade Federal de Goiás. 
Para Libâneo as necessidades educativas presentes, tornam a escola um lugar de mediação cultural, e a pedagogia, ao viabilizar a educação, é a prática cultural intencional de produção e internalização de significados. Libâneo é o autor referência da corrente das tendências pedagógicas, e é partidário da tendência crítico-social dos conteúdos. Conforme ele, essa tendência salienta e prioriza os conteúdos culturais universais, que são incorporados pela humanidade no seu confronto com as realidades sociais.
Algumas das principais obras são: 

Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos - 1985 

Aceleração escolar: estudos sobre educação de adolescentes e adultos – 1976 

Organização e gestão da escola: teoria e prática – 2000 

Pedagogia e pedagogos, para quê? – 2001 

Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente - 2001 e 2002 

Didática, velhos e novos temas – 2003 

Educação escolar, políticas, estrutura e organização – 2005 

Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade – 2005 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Isabel Alarcão


Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva

Nesta obra a autora Isabel Alarcão nos apresenta a importância da interação entre escola, professor e a comunidade no processo de ensino-aprendizagem, a necessidade da auto-avaliação e reflexão do professor e da escola durante a caminhada no seu processo educativo interagindo e somando esforços no objetivo de encontrar novas soluções para os problemas vivenciados no seu cotidiano escolar, mostrando as competências exigidas aos professores em se tratando do alargamento das fronteiras na busca pelo conhecimento e metodologias que permitam prestar um ensino de qualidade enfatizando bem a posição da escola, do professor e do aluno perante as exigências da sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem.


A FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO PARA E NUMA ESCOLA REFLEXIVA NUMA SOCIEDADE DE APRENDIZAGEM


A Sociedade da informação em que vivemos exige competências de acesso, analise e gestão da informação oferecida. A escola tem papel fundamental na aquisição, reconhecimento e desenvolvimento dessas competências, refletindo e buscando soluções a fim de minimizar as diferenças de acesso a informação e promovendo a igualdade de oportunidades para todos, evitando a exclusão social, ou seja, a info-exclusão.
Devido às dificuldades que o cidadão comum tem em administrar a avalanche de informações, novas idéias e oportunidades, desafios e ameaças que o cercam, é necessário que um mundo tão rico em informações estimule o desenvolvimento do poder clarificador do pensamento, porque a informação quando não organizada, não se constitui em conhecimento, não é saber, e não se traduz em poder, Alarcão,2003.
É imprescindível sistematizar os conhecimentos que buscamos, pois precisamos ter noção do que procuramos e onde podemos buscar essas informações. De posse desses subsídios, é necessário interpretar, sistematizar, distinguir o que é ou não relevante, filtrar e selecionar somente aquilo que nos servirá de base para a aprendizagem.
Só o pensamento pode organizar o conhecimento. Para conhecer é preciso pensar e ao invés de uma cabeça bem cheia reclama-se uma cabeça bem feita, (Morin, 2000). E uma cabeça bem feita é aquela que é capaz de converter a informação em conhecimento pertinente. A escola precisa possibilitar o desenvolvimento da capacidade de discernir entre a informação correta ou incorreta, pertinente ou supérflua. É urgente a necessidade de desenvolvermos a habilidade de estabelecer o pensamento aliado a ação em função da informação e para isso é necessário reavaliar a maneira como as informações são repassadas e como elas são processadas pelos alunos, é preciso reaprender a aprender. Uma cabeça bem feita é aquela que é capaz de transformar a informação em conhecimento pertinente.
Neste processo de constante troca que é o ensino-aprendizagem a escola não se apresenta como a detentora do saber, más como organização que apresenta um sistema de ensino aberto pensante e flexível. Sistema aberto sobre si mesmo, e aberto a comunidade na qual está inserida, o professor neste contexto não é o único transmissor do saber e necessita se situar neste novo papel que exigirá cada vez mais dele.
O aluno já não é mais aquele que está ali somente para receber as informações e se encher dos conteúdos que são apresentados. O seu novo papel também lhe acrescenta novas exigências. Ele terá que aprender a administrar as informações apresentadas e relacioná-las para as transformações no seu conhecimento e no seu saber.
A sala de aula deixou de ser um espaço onde se transmitem conhecimentos, passando a ser um espaço onde se procura e onde se produz conhecimento, (Demo), apud,Alarcão,2003.”
O ensino é voltado para o desenvolvimento da capacidade do aluno de avaliar e administrar o andamento dos seus estudos, possibilitando ao aluno ser diretamente responsável pela construção do conhecimento adquirido e pela sua aprendizagem democratizando assim o ensino.
A sociedade da aprendizagem exige que o aluno desenvolva a capacidade de utilizar e recriar o conhecimento, questionando,experimentando, indagando, construindo um pensamento próprio, desenvolvendo meios de auto-aprendizagem, administrando a sua vida individual e em grupo, sem anular a sua identidade. Portanto, se faz necessário se adaptar e desenvolver habilidades que o capacite a lidar com situações inesperadas, assumindo responsabilidades, resolvendo problemas, aceitando os outros e trabalhando em cooperação alargando seus horizontes temporais e geográficos, capacitando-o a exercitar a comunicação, interação, estimulando-o a fortalecer a capacidade de autoconhecimento e auto-estima.
Numa sociedade que está em constante processo de aprendizado e desenvolvimento, ser aluno é ser aprendente e interagir constantemente com as oportunidades que o mundo lhe oferece, e estar em constante processo de aprender a aprender ao longo da vida, influenciar e ser influenciado interagindo de forma significativa no meio em que vive.
Na sociedade de aprendizagem é papel dos professores criarem, estruturar e dinamizar situações que incitem a aprendizagem e a autoconfiança nas aptidões individuais que cada aluno possui. O grande desafio dos professores é ampliar nos alunos a habilidade de trabalho autônomo e colaborativo, desenvolvendo o espírito crítico. Nesse contexto, os professores são estruturadores e incentivadores da aprendizagem e não estruturadores do ensino.
Para que o professor se identifique nessa sociedade de aprendizagem se torna necessário repensar o seu papel, recontextualizar a sua identidade e responsabilidade profissional e se considerar em um firme processo de autoformação e identificação profissional, ser um professor reflexivo numa sociedade profissional reflexiva.
A escola reflexiva busca formar professores que sejam seres pensantes, intelectuais e capazes de administrar sua ação profissional, é também papel da escola avaliar e questionar a si própria como agência de ensino. A atitude de reflexão constante na escola e nos professores manterá presente a importante questão da função que o professores e a escola desempenham na sociedade, ajudando a buscar soluções, resolver problemas por meio da metodologia da pesquisa-ação constituindo um processo de mudança social e planejada. Através da pesquisa-ação, do desenvolvimento da capacidade de reflexão, o questionamento dos outros fatores educativos, o confronto de opiniões e abordagens, a auto-observação, a supervisão colaborativa, as perguntas pedagógicas e outras estratégias, a escola poderá ser bem sucedida na busca pelo desenvolvimento da formação de professores reflexivos e numa escola reflexiva.
A mudança de que a escola precisa é uma mudança padigmática. Porém, para mudá-la, é preciso mudar o pensamento sobre ela. É preciso refletir sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogo com os problemas e as frustrações, os sucessos e os fracassos, mas também em diálogo com o pensamento próprio e o dos outros, (ALARCÃO, Isabel, 2001)


Referência Bibliográfica
ALARCÂO, Isabel. Professores Reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.


Biografia
Nasceu em 09 de março de 1940 em Coimbra Portugal, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Exerceu a docência do ensino secundário durante sete anos tendo sido também orientadora de estágios. Esta experiência despertou-a para a relevância da formação de professores, temática que aprofundou no Mestrado em Curriculum and Instruction que realizou na Universidade do Texas, em Austin, estados Unidos da América, em 1974- 75. Doutorada em Educação.
Trabalho Profissional
Avançou o conceito de tríptico didático (1997) para designar a tripla dimensão ou a multidimensionalidade da didática Investigativa (diz respeito ao trabalho do investigador nesta disciplina), a didática curricular (refere-se a formação curricular, inicial e ou contínua, em didáticas dos formadores e futuros formadores) e a didática profissional (refere-se as práticas dos professores no terreno escolar).

Publicações
Alarcão,(1994), “ A didática curricular na formação de professores” in A. estrela e J. Ferreira.
(Org.), desenvolvimento curricular e didáctica das disciplinas Actas do IV Colóquio Naional da secção Portuguesa da Association Internationale de Recherche en Sciences de L’Éducation. Lisboa: AFIRSE?AIPELF.
Alarcão , I . (2001), “ Novas Tendências nos paradigmas de investigação em educação”.
Alarcão, (Org), escola Reflexiva e Nova Racionalidade.Porto Alegre, Artmed Editora.
Alarcão, I. ET. AL. (2004) Percursos de Consolidação da didactica de Linguas em Portugal.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Demerval Saviani

ESCOLA E DEMOCRACIA
Saviani inicia seu livro listando questões de dois grupos um tanto antagônicos.
O grupo das teorias não críticas, denominada como a pedagogia tradicional, pedagogia nova e a pedagogia tecnicista, que acredita que a educação é a panaceia capaz de acabar com a marginalidade da sociedade. O grupo das Teorias Crítico-Reprodutivistas subdivididas em Teoria de Sistema enquanto Violência Simbólica, Teoria da Escola Enquanto Aparelho Ideológico do Estado (AIE) e Teoria da Escola Dualista, que opostamente acredita que a educação surge como fator agravante, por meio da discriminação e culpada pela marginalidade. Por fim, sugere uma Teoria Crítica da Educação. Saviani salienta que o grupo das teorias não – críticas e das teorias crítico -reprodutivistas esclarecem a marginalização na forma da integração entre sociedade e educação.
A escola tradicional e a escola nova são terrivelmente criticadas, e seu insucesso por volta das décadas de 60 e 70, salientadas por Saviani é simples de esclarecer. As teorias tradicionais e novistas centralizadas no aluno ou no professor como responsáveis principais pelo ensino aprendizado eram imperfeitas. Ambos não possuíam, separadamente, este poder de criar o ensino–aprendizado. Hoje sabemos que o papel do educador é criar motivação e transmitir metodologia de busca e adquirir conhecimento, com participação ativa do aluno, que na época era tido como ser passivo diante do fenômeno ensino aprendizagem. Naquela época, os professores se detinham em explicações melancólicas para o coletivo. “Quem entendeu, entendeu, quem não entendeu, ficou reprovado…”
Nas teorias descritas acima, concordamos que esta educação teve grande influência para a reprovação e abandono escolar, mas jamais, como fator principal gerador de marginalidade.
Saviani verifica algumas características das teorias educacionais, garante que a teoria tradicional aparece historicamente com o interesse de superar o Antigo Regime, calcado nas conquistas da Revolução Francesa, que propõe que o ensino seja universalizado para tirar cada indivíduo da condição inferior de submetidos e transformá-los em cidadãos esclarecidos. Nesse caso, a marginalidade é vista como um fenômeno que provém do déficit intelectual que ocorre pela falta de instrução. A escola seria a panaceia para este problema, no mesmo tempo em que se divulga um ensino centralizado em volta da figura do professor. Os alunos deviam aprender sua lição com atenção e disciplina, dirigidas pelo mestre-escola, cabendo ao aluno aprender.
Aos poucos, essa teoria foi caindo em descrédito por causa das dificuldades de acesso de todos à escola e também devido ao fracasso escolar, mesmo para aqueles que conseguiam ingressar na instituição escolar.
A Pedagogia Nova aparece como uma maneira de resolver os problemas criados pela Pedagogia Tradicional. Vê o marginalizado como alguém que foi rejeitado pelo sistema escolar e pela sociedade, e não como um ignorante. A escola deve reintegrar o aluno ao grupo, transformando-o como centro do processo ensino-aprendizagem, e deve o estimular para participar de um ambiente alegre e criativo, porém, acreditamos que a educação não deve ser centrada no professor, e menos ainda, no aluno.
A proposta da escola nova ajuda para degradar o nível da aprendizagem e do ensino, pois tirou o professor do centro do processo de ensino aprendizagem, que sabia, e jogou para o aluno, que não tinha condições de adquirir o saber.
Nasce então a pedagogia tecnicista. Nesta, marginalizado é o incompetente e não o ignorante, ele é o ineficiente e improdutivo, ou seja, a educação contribuirá para superar o problema da marginalidade formando indivíduos eficientes, que sejam capazes de contribuir para o aumento da produtividade da sociedade.
Enfim, para a pedagogia tradicional o importante era aprender, para a pedagogia nova aprender a aprender e para a pedagogia tecnicista, o importante era aprender a fazer.
As características da democracia atual com suas classes dominantes e dominadas mostra a escola como Aparelho Ideológico do Estado. Apesar das lutas destas classes, as chances de vitórias são irrisórias. A dominação da burguesia, por meio daqueles que alcançaram algum sucesso e preenchem posições altas, tem fortes instrumentos para repreender eventuais e tímidos protestos da classe dominada. Neste sentido, a marginalidade é a classe dominada, que sufocada pelo poder estatal se limita a cumprir seu papel e obedecer a normas e leis vindas da classe dominadora, que visam apenas manter seus interesses e o poder.
Uma característica do capitalismo é a sua dualidade social, satirizadas em algumas músicas: (porque o de cima sobe e o de baixo desce.. bom te bom, bom, bom, bom, bom…). Os de baixo e os de cima, ricos e pobres, dominadora e dominada, segundo Baudelot e Establet in Lécole capitaliste em France (1971). A escola não foge a esta regra. A escola da classe dominada intitulada de Escola Pública, e a Escola Particular ou escola da burguesia, incluindo as Universidades.
Mais uma vez o proletariado e a burguesia aparecem com fronteiras bem distintas. Parece-nos que a ênfase desta dualidade é uma tendência primária profissionalizante e a secundária superior. A primeira para os filhos da classe mais pobres, impedida de ter acesso às escolas superiores. A segunda para a classe burguesa, que pode chegar aos níveis superiores e manter nas mãos o poder de sua beneficiada classe. Este é o aparelho ideológico do Estado Capitalista, que funciona em proveito da classe dominadora e contribui para dar continuidade as relações sociais de produção capitalista. Dentro de conceitos para esta escola defensora de interesses burgueses, está o engrandecimento do intelecto e a desvalorização do trabalho manual. Neste sentido, a escola surge como fator que marginaliza, e não como fator de resolução como se propõe.
A escola com suas pedagogias oscilam sendo que é um instrumento forte da classe dominadora. Parece que a vara da curvatura, ora vicia dum lado e ora vicia do outro.
No Brasil a escola nova que sugere uma escola para todos e que aparenta ser um beneficio para a classe proletária, na verdade era interesse comum. A burguesia pensava que os dominados mais escolarizados conseguiriam escolher melhor seus governantes, porém melhores sobre o ponto de vista dominante. No entanto, o melhor de acordo com a ótica da classe dominada não estava de acordo com o ideal da burguesia e na verdade nunca estará. Fica compreendido que esta escola não está cumprindo com a função, que é a de consolidar a burguesia.
Como pode ser visto, a burguesia continua manipulando as ferramentas pedagógicas a fim de manter sem mudança a balança social que está em desequilíbrio, citando a classe capitalista em comentário gracejo de um texto bíblico, segundo Saviani, pois levam ao pé da letra, utilizando um texto fora do seu contexto, a parábola dos talentos: “ao que tem se lhe dará e ao que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado”. Vemos que mesmo atualmente o Estado favorece com ajuda financeira o ensino do primeiro grau, para que a classe do proletariado possa aprender o mínimo para servir ao seu interesse, pois uma classe sem escolaridade alguma mostra-se um tanto inútil aos interesses de uma sociedade no nível atual de tecnologia. Entretanto, o ensino de segundo grau já possui restrições de ajuda financeira.
Em falar sobre a Curvatura da Vara, parece que Saviani puxa de propósito a vara para o lado oposto, na esperança desta vir para o centro, que não é nem a escola tradicional nem a escola nova; mas a vara é um pouco teimosa e se vicia na nova posição e nota-se que terá que ser com muita cautela para trazê-la para o centro.
O objetivo principal de Saviani é sacudir fortemente a máquina político-educacional, chacoalhando as Curvaturas das Varas para encontrar seu equilíbrio ideal.
Na educação o objetivo é convencer, já na política o objetivo é vencer. Estas são características que se opõe. Para esclarecer, o educando, ao longo do processo pode ser convencido e aprenderá. Na política o adversário precisa ser vencido e ainda assim, não ficará convencido, continuará na oposição lutando contra o vencedor, agora classe dominadora. Como podemos ver, educação e política são práticas distintas e é preciso não confundi-las, o que poderia terminar como o politicismo pedagógico ou pedagogismo político, o que resultaria na escola a serviço da burguesia. No entanto, a consequência não é a exclusão da política como prática independente, elas são opostas, porém como o bem e o mal, o sim e o não, o positivo e o negativo são inseparáveis eles também tem forte relação. No entanto, como tratar destas coisas tão opostas? Primeiramente, é necessário entender que uma não existe sem a outra. Elas tem uma forte relação interna. Toda prática educativa possui uma dimensão política e toda prática política possui uma característica educativa. Percebe-se que a dimensão pedagógica na política envolve a articulação, a aliança visando o combate as oposições, o mesmo acontecendo na dimensão política na educação com apropriação de instrumentos culturais aplicados na luta contra as diferenças.
Neste caso, a educação depende da política no sentido financeiro e a política depende da educação para preparar seus indivíduos. O que acontece de fato é que a educação é mais dependente da política do que esta da educação. Na verdade, Saviani acerta em cheio, quando diz, indiretamente, que política e educação são faces antagônicas da mesma moeda que é a prática social.
Apesar de uma aparente sujeição da educação à política, podemos conceituar a educação como uma prática idealista e a política como uma prática realista, mas que podem existir juntas sem conflitos, respeitando as diferenças: ser idealista sonhando que a sociedade almejada é uma realidade e ser realista buscando atingir o ideal sonhado. Insistindo nas comparações podemos também dizer que a prática política se apoia na verdade do poder e a prática da educação se apoia no poder da verdade.
REFERÊNCIAS

  • SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 33.ª ed. revisada. Campinas: Autores Associados, 2000.

Dermeval Saviani: vida e obra

Nasceu em Santo Antônio de Posse –SP, em 03/02/44 (de direito, pois de fato nasceu em 25/12/43). Filho de trabalhadores e neto de imigrantes italianos. Concluiu o Curso primário, em 1954, em São Paulo e em 1959, o Curso ginasial no Seminário Nossa Senhora da Conceição, em Cuiabá.

Estudou no Seminário maior de Aparecida, em SP, onde concluiu em 1962 o Curso Colegial.Nesta época, devido à renúncia de Jânio Quadros em 1961 e com a mudança da forma de governo (de parlamentarismo para presidencialismo) ocorreram várias mudanças na sociedade que influenciaram também a Igreja, que neste contexto estava preocupada com a transformação da estrutura social. Era o período da Igreja Popular, que buscava a aproximação do povo com a religião. Saviani fez parte do movimento JOC - juventude Operária Católica se envolvendo com todas essas transformações que estavam acontecendo.
Continuou os estudos de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento da PUC/SP, que era um reduto de estudantes burgueses. Trabalhava, nesta época, no Banco Bandeirantes e concluiu seu curso de Filosofia, em 1966, tendo vivenciado profundas mudanças na sociedade, causadas pelo Golpe Militar em 1964.

Deixou o Banco e foi lecionar Filosofia em escola pública. Por volta de 1966 passou a trabalhar em um órgão da Secretaria de Educação de São Paulo. Em 1967 atuou como professor do Curso de Pedagogia da PUC/SP e ajudou a criar os Cursos de Mestrado e Doutorado em Filosofia da Educação nessa Instituição. Em 1970 foi lecionar na recém criada Universidade Federal de São Carlos onde ajudou a implantar, em 1976 o Mestrado em Educação, em convênio com a Fundação Carlos Chagas. 

Concluiu em 1971 o Doutorado, na área de Ciências Humanas: Filosofia da Educação, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Bento, da PUC/SP. Em 1978 retornou como professor da PUC/SP e ajudou a criar o Doutorado em Educação nesta Instituição.

Em 1979 ajudou a criar a ANDE – Associação Nacional de Educação. Foi o fundador da ANPED e do CEDES.

Em 1986 concluiu a Livre Docência na área de Ciências Humanas: História da Educação na Faculdade de Educação da UNICAMP. 

Em 1988 participou da elaboração de um anteprojeto da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Em 1988 coordenou o programa de pós-graduação da UNICAMP.

Já participou de cerca de 80 bancas de Mestrado e Doutorado e teve mais de 60 orientandos, que defenderam teses de Mestrado e Doutorado. Atualmente é professor na UNICAMP e também está envolvido com diversos projetos educacionais e de pesquisa. 


OBRAS DE DERMEVAL SAVIANI

  • Escola e Democracia, São Paulo: Cortez Autores Associados, 1986
  • Educação - Do Senso Comum a Consciência Filosófica, São Paulo: Cortez Autores Associados, 1980.
  • Ensino Público e Algumas Falas sobre Universidade, São Paulo: Cortez Autores Associados, 1985.
  • Sobre a Concepção de Politécnica Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1989
  • A Pós-Graduação em Educação no Brasil, Florianópolis/São Paulo: UFSC/Cortez, 2002
  • A Questão Pedagógica na Formação de Professores, Florianópolis: Endipe, 1996
  • A Nova Lei da Educação-Trajetória, Limites e Perpectivas, Campinas: Autores Associados, 1999
  • Pedagogia Histórico-Crítica, primeira aproximações, Campinas: Autores Associados, 2000
  • Política e Educação no Brasil-O Papel do Congresso Nacional na Legislação do Ensino, São Paulo, Cortez, 1987
  • Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação-Por Uma Outra Política Educacional, Campinas, Autores Associados, 1998




Paulo Freire


Paulo Freire - Concepções de Escola, Ensino e Aprendizagem.

O educador e escritor brasileiro Paulo Freire foi e continua sendo referência na Educação brasileira. Dedicou-se plenamente em favor daqueles, especialmente jovens e adultos, encontrados à margem de uma vida digna, a fim de conscientizá-los a entender a situação em que viviam e agir sobre ela, de modo a alcançarem a liberdade. Esse compromisso social o tornou fonte de inspiração para educadores de gerações passadas, presentes e futuras.

Freire escreveu diversas obras, entre elas a “Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa”, dividida em três capítulos, os quais versam sobre o processo de formação do educador enquanto sujeito democrático, viabilizando a sua própria autonomia, como também a do educando.
Nessa obra, o pesquisador demonstra perceber a escola como um ambiente favorável à aprendizagem significativa, onde a relação professor-aluno acontece sempre com diálogo, valorizando o respeito mútuo. O espaço escolar deve sempre contribuir para a curiosidade, a criatividade, o raciocínio lógico, o estímulo à descoberta.

Paulo Freire acredita que a Educação é um processo humanizante, social, político, ético, histórico, cultural e afirma: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

A partir desse prisma, veremos a seguir algumas considerações que evidenciam os saberes necessários à prática docente:
1.    A pesquisa como meio de aperfeiçoamento docente contínuo, logo, através desta, o mesmo poderá tanto atualizar seus conhecimentos como também estimular seus alunos ao mesmo hábito; 
2.    O respeito aos saberes dos alunos, advindos das experiências anteriores à sala de aula, bem como suas realidades e necessidades; 
3.    O comprometimento com a educação de qualidade e igualitária, visando a inserção de indivíduos ainda marginalizados, numa sociedade desigual e excludente, pois, somente por meio dessa educação ideal, os envolvidos nesse processo terão acesso a inclusão na sociedade vigente; 
4.    A reflexão constante da teoria aliada à prática docente, como forma de melhorar a próxima e, sendo assim, não perder o verdadeiro sentido;
5.    A relação que se estabelece entre educador e educando é alicerçada pelo princípio do aprendizado mútuo, não havendo uma verdade absoluta trazida pelo professor para a sala de aula, uma vez que o aluno já traz consigo conhecimentos prévios e, consequentemente, sua visão de mundo. 
6.    A ética como elemento essencial na prática educativa, pois, segundo afirmação de Paulo Freire, “nos tornamos capazes de comparar, de intervir, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos” (FREIRE, 1996, p.16), em outras palavras, somos seres histórico-sociais e, portanto, nos colocamos pela ética, respeitando a capacidade de cada um.
Paulo Freire considera que o docente não deve se limitar ao ensinamento dos conteúdos, mas, sobretudo, ensinar a pensar, pois “pensar é não estarmos demasiado certos de nossas certezas”. (FREIRE, 1996, p. 28). O pensar de maneira adequada permite aos discentes se colocarem como sujeitos históricos, de modo a se conhecerem e ao mundo em que se inserem, intervindo sobre o mesmo, isto é, aprende-se a partir dos conhecimentos existentes e daqueles que serão ressignificados mais adiante.
Ensinar é, portanto, buscar, indagar, constatar, intervir, educar. O ato de ensinar exige conhecimento e, consequentemente, a troca de saberes. Pressupõe-se a presença de indivíduos que, juntos, trocarão experiências de novas informações adquiridas, respeitando também os saberes do senso comum e a capacidade criadora da cada um.
A verdadeira aprendizagem é aquela que transforma o sujeito, ou seja, os saberes ensinados são reconstruídos pelos educadores e educandos e, a partir dessa reconstrução, tornam-se autônomos, emancipados, questionadores, inacabados. “Nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo”. (FREIRE, 1996, p. 26).  Sob esse ponto de vista, percebemos a posição do educando como sujeito desse processo de reformulação do conhecimento, ao lado do educador. Ele passa a ser visto como agente e não mais como objeto, isto é, ambos fazem parte do processo ensino-aprendizagem numa concepção progressivista.

O referido autor considera ainda que: Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 21). Dito de outra forma, o docente deve transmitir o conhecimento buscando proporcionar ao discente a compreensão do que foi exposto e, a partir daí, permitir que o mesmo dê um novo sentido, quer dizer, a ideia é não dar respostas prontas, mas criar possibilidades, abrir oportunidades de indagações e sugestões, de raciocínio, de opiniões diversas etc. Jamais impedir as interações, as opiniões, os erros e os acertos, isto é, todos esses elementos permitirão que o aluno alcance o real conhecimento e continue a buscá-lo incessantemente de forma autônoma e prazerosa. 


Capítulo I – “Não há docência sem discência”



Neste capítulo Paulo Freire critica as formas de ensino tradicionais. Defende uma pedagogia fundada na ética, no respeito, na dignidade e na autonomia do educando. Questiona a função de educador autoritário e conservador, que não permite a participação dos educandos, suas curiosidades, insubmissões, e as suas vivências adquiridas no decorrer da vida e do seu meio social. Coloca vários argumentos em prol de um ensino mais democrático entre educadores e educandos, tendo em vista que somos seres inacabados, em constante aprendizado. Todo indivíduo seja educadores ou educandos devem estar abertos a curiosidade, ao aprendizado durante seu percurso de vida. Nesse sentido destaca a importância dos educadores e suas práticas na vida dos alunos. Atitudes, palavras, simples fatos advindos do professor poderão ficar marcados pelo resto da vida de uma pessoa contribuindo positivamente ou não para o seu desenvolvimento. Enfatiza a cautela quando o assunto é educar, pois educar é formar. Destaca a importância do educador e sua metodologia. Ressalta que o educador deve estar aberto também a aprender e trocar experiências com os educandos, pois a vivência dos educandos merece respeito. Em seus métodos atuais enfatiza que a curiosidade dos educandos é um aspecto positivo para o aprendizado, pois é um fator importante para o desenvolvimento da criticidade. O ensino dinâmico desenvolve a curiosidade sobre o fazer e o pensar sobre o fazer. Paulo Freire destaca a necessidade do respeito, compreensão, humildade e o equilíbrio das emoções entre educadores e educandos em seus métodos de ensino.

Capítulo II– “Ensinar não é transferir conhecimento”
No capítulo 2 Paulo Freire aborda a questão da ética entre educador e educando. Discursa sobre a prática de ensinar. “Ensinar não é transferir conhecimento”, é respeitar a autonomia e a identidade do educando. Para passar conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os educandos. Deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos. Fornece argumentos mostrando que desta forma é possível o desenvolvimento da crítica. Ele se volta para a teoria do pensar certo. Constata as diferenças de forma de tratamento às pessoas em relação ao seu nível social. Educar é também respeitar as diferenças sem discriminação, pois esta é imoral, nega radicalmente a democracia e fere a dignidade do ser humano. Qualquer forma de discriminação deve ser rejeitada. Aborda alguns conceitos que são necessários para o desempenho do bom ensino tendo por consequência maior aproveitamento no aprendizado. A ética, o bom senso, a responsabilidade, a coerência, a humildade, a tolerância são qualidades de um bom educador. Ele também aborda a questão do professor defender seus direitos e exigir condições para exercer sua docência, pois dessa forma estará exercendo sua ética e respeito por si mesmo e pelos alunos.
Capítulo III – “Ensinar é uma especificidade humana”
No capítulo 3 Paulo Freire aborda o tema da autoridade do educador. É muito importante a segurança e o conhecimento do professor para se fazer respeitado. Distingue a autoridade docente democrática da autoridade docente mandonista. Protesta em relação à minimização da população mais carente quanto à imposição de colocá-los em situações ditas como fatalísticamente imutáveis pela sociedade mais favorecida, com o objetivo de obter alienação, resignação e conformismo. Traça argumentos a favor da recriação de uma sociedade menos injusta e mais humana. Aponta que o professor exerce uma grande importância para que haja um movimento de mudança social. Delineia algumas atitudes de atuação do professor em sala de aula que podem fazer florescer uma nova consciência aos futuros educandos. Mostra que há necessidade de decisão, ruptura e escolhas para alcançar os objetivos. Como professor critico impõem a decência e a ética como fatores qualitativos para obter o respeito dos alunos , e estes acompanhá-los. Os professores têm uma séria responsabilidade social e democrática. Estes devem abstrair-se da sua ignorância para escutar os educandos, sem tolí-los. Indica que há uma necessidade de mudanças na postura dos profissionais para enfim colaborar com a melhoria de condições e qualidade de vida, e assim desarticular qualquer forma de discriminação e injustiça, pois a educação é uma especificidade humana que intervém no mundo. Traça aspectos necessários aos educadores para dar oportunidade aos educandos de desenvolverem sua criatividade, o senso de crítica, respeito, e liberdade. Demonstra que a pedagogia da autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e responsabilidade. Critica as atividades consideradas anti- humanistas. Discute também sobre a intervenção da globalização que vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobreza de milhões. A preocupação com o lucro deixa a desejar as questões de ética e solidariedade humanas. Inclusive Paulo Freire cita que o desemprego no mundo não é uma fatalidade como muitos querem que acreditemos e sim o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos, deixando de ser algo a serviço e bem estar do homem.
A obra de Paulo Freire Pedagogia da autonomia pode ser base de conhecimento para a vida. É um livro de conteúdo valioso que muito nos ensina.
Nas práticas educacionais faz-se útil esse conhecimento. Como pedagogos temos que partir do principio que somos seres incompletos, que precisamos estar em busca de novos conhecimentos, sejam eles técnicos, práticos ou através das pessoas que convivemos ou que passam por nosso caminho. Para sermos respeitados temos que ter segurança no conhecimento. Pedagogo é uma profissão que está atrelada a um conjunto de práticas sociais e éticas ligadas aos seres humanos, na maioria das vezes em situações de fragilidade física e/ou emocional. Dessa forma necessitamos de segurança no conhecimento que adquirimos para passar confiança àqueles que de nós necessitam. O pedagogo (a) confiante no que faz traz segurança àqueles que cuidam e administra.
Além de todo o conhecimento técnico científico, o bom pedagogo deve saber administrar sua equipe de forma democrática com autonomia e autoridade respeitando as vivências adquiridas de sua equipe como um todo e individualmente.
A pedagogia também está envolvida com aspectos econômicos-sociaisculturais, por isso é necessária uma boa conscientização desse profissional para a obtenção de resultados positivos a serviço do bem estar do Homem. Deve abster-se de qualquer forma de discriminação sendo um ser neutro nessa particularidade, tratando todos com igualdade, pois , está centrada na clientela. Por esse motivo faz-se necessário que todos sejam aliados na luta por uma assistência de qualidade e acessível a toda população. Educação é um direito de todos.
Podemos concluir que esta obra se aplica as práticas docentes e os métodos didáticos dentro e fora da escola, analisa imparcialmente as questões professor e aluno, conteúdo disciplinares, vivencia comunitária e o papel da família no processo pedagógico, posicionando-se de forma coerente. Não podemos deixar de reconhecer que além da riqueza intelectual de idéias que serão à base de muitos diálogos e reflexões. É de fato um roteiro que de forma muito simples ensina o professor a ensinar, pois ensinar não deve ser apenas transferência de conteúdos, mas um ato de respeito ao próximo, com sua bagagem e 
Bibliografia
FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Pesquisa web (Biografia do autor) http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espacoeducar/ensino-fundamental/educ-jovens-adultos/artigos/biografia.pdf



Biografia

Nasceu no dia 19 de setembro de 1921, na Estrada do Encanamento, no bairro Casa Amarela, em Recife, Pernambuco.  

Era de uma família de classe média. Seu pai, Joaquim Temístocles Freire, era oficial da polícia militar de Pernambuco e sua mãe, Edeltrudes Neves Freire, fazia trabalhos domésticos, bordava e tocava piano. Além de Paulo, juntos tiveram Stela, Armando e Temístocles.
Aprendeu a ler com a mãe e o pai, escrevendo, com gravetos de mangueiras, na terra da casa onde ele tinha nascido.
A crise financeira de 1929 teve uma repercussão muito forte na vida de Paulo Freire, fazendo sua família deixar a casa em Recife e partir para Jaboatão dos Guararapes, a 18 Km de Recife, tentando, em vão, fugir da pobreza.
Em Jaboatão dos Guararapes, Paulo Freire completou os primeiros anos dos seus estudos e fez-se necessária a sua ida até Recife, para que pudesse continuar estudando. Sua mãe, então viúva e responsável única pela criação dos filhos, voltou a Recife e buscou para Paulo Freire uma bolsa de estudos nos colégios da cidade, até chegar ao Colégio Osvaldo Cruz, de Aluízio Araújo.
No Colégio Osvaldo Cruz, Paulo Freire reiniciou, aos 16 anos, os estudos no 2º ano do Ginásio, o equivalente ao 7º ano do Ensino Fundamental dos dias atuais.
Começou a trabalhar na mesma escola em que estudara em Recife, o Colégio Osvaldo Cruz, dando aulas de Português. E, como professor de Português dessa escola, Paulo Freire conheceu Elza Maia Costa Oliveira, sua esposa por mais de 40 anos. Eles se casaram em 1944 e tiveram 5 filhos.  
Cursou Direito na Universidade do Recife, mas optou por não exercer a profissão. Ao invés disso, dedicou-se à alfabetização de adultos e se tornou um ícone na área da educação popular e um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial.
Depois da desistência da carreira em Direito, foi convidado a trabalhar no SESI de Recife e inovou as práticas de ensino, ao trazer recortes de jornal sobre assuntos peculiares como salário e greve para a discussão com os operários.
Em 1958, num congresso de educação de adultos, convocado pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Paulo Freire apresentou sua ideia de que o analfabeto não era o problema e alfabetizar não era a solução. Para ele, o problema era a miséria da população.
Criou-se em Recife, em 1960, o MCP – Movimento de Cultura Popular – e, nesse âmbito, Paulo Freire desenvolveu o seu método de alfabetização para adultos. Como convidado do Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife, sistematizou uma experiência de alfabetização, realizada em Angicos, uma pequena cidade no sertão do Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias.

Com o golpe de estado de 31 de março de 1964, Paulo Freire foi exilado e ficou fora do Brasil durante todo o regime militar. Esteve em muitos países do mundo, como Bolívia, Chile, Suíça e alguns países da África, nunca deixando de desenvolver suas ideias e de escrever seus livros.
Durante o período em que viveu no Chile, Paulo Freire publicou, em 1967, seu primeiro livro no Brasil – Educação como Prática da Liberdade.
Em 1968, Paulo Freire publicou, em várias línguas, seu livro mais conhecido – A Pedagogia do Oprimido. Esse livro foi proibido no Brasil até o ano de 1974 em razão da ditadura militar.
Por causa das boas críticas sobre o livro Educação como Prática da Liberdade, Freire foi convidado para ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969.
Retornou ao Brasil em 1979 e procurou revigorar e modificar suas ideias. Em 1980, filiou-se ao PT. Após a morte de Elza em 1986, viveu um período difícil e, gradativamente, voltou à vida, até que se casou com Ana Maria Araújo Freire, no momento sua orientanda no projeto de mestrado da PUC-SP.
Com a vitória do seu partido nas eleições municipais paulistas em 1988, Paulo Freire foi nomeado Secretário de Educação da cidade de São Paulo e ocupou esse cargo de 1989 até 1991. Durante esse período, Freire criou o MOVA – Movimento de Alfabetização, seu objetivo era voltado para a Educação de Jovens e Adultos.
Faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo.

Em 13 de abril de 2012, foi sancionada a lei 12.612 que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
Foi o brasileiro mais homenageado da história: ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford.
Principais Obras:
Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco C. Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (19 ed., 1989, 150 p).
A importância do ato de ler (em três artigos que se completam). Prefácio de Antonio Joaquim Severino. São Paulo: Cortez/ Autores Associados. (26. ed., 1991). 96 p. (Coleção polêmica do nosso tempo).
Pedagogia do oprimido. New York: Herder & Herder, 1970 (manuscrito em português de 1968). Publicado com Prefácio de Ernani Maria Fiori. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p., (23 ed., 1994, 184 p.).
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994), 245 p
Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra,(1996.).