Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos
Por:
José Carlos Libâneo
Esse
texto baseia-se na dura vida dos professores divididos entre o avanço
na prática educacional e aceitar a forma tradicional onde se
encontram os locais de ensino no país. A escola brasileira tem sido
marcada de forma geral pelas tendências liberais, preparando os
indivíduos para o desempenho de papéis sociais, no sentido de
reprodução dos valores e normas da sociedade. As tendências
pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas.
Os
procedimentos didáticos e também os conteúdos, a relação
professor e aluno não faz nenhuma relação com a rotina do aluno e
muito menos com sua realidade social, portanto, a individualidade e a
história desse aluno, são ignorados. O que vemos é a reafirmação,
a repetição de um conceito.A
tendência Liberal se divide em: Tradicional, renovada
progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. A Pedagogia
progressista em: libertadora, libertária e crítico-social dos
conteúdos. Nos últimos 50 anos, a educação brasileira foi marcada
pelas tendências liberais, ora conservadora ora renovada. A
verdade é que não existem transformações consistentes nessas
práticas que são obsoletas e pactuantes com esse sistema social
capitalista em que vivemos. A globalização trouxe uma forma de
mudança radical e irreversível causando uma enorme mudança o que
afetou as estruturas as condições de trabalho, as relações entre
os Estados, a subjetividade coletiva, a produção cultural e
principalmente a vida na escola. A globalização não é um
quebra-cabeça que se possa resolver com base num modelo
preestabelecido e análise da mesma forma que a identidade que se
afirma na crise do multiculturalismo ou quando a internet facilita a
expressão de identidades prontas para serem usadas.As tendências pedagógicas foram classificadas em Liberais e progressistas usando como critério a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos das escolas.
A Pedagogia Liberal
Para a pedagogia liberal as escolas devem preparar o aluno para viver em sociedade de acordo com a identidade e aptidão de cada ser. Para tanto precisam aprender a se adaptar às normas e valores que regem a sociedade de classes. Mas mesmo com a idéia de igualdade de oportunidades, a realidade dessas classes é escondida pelo engrandecimento cultural.
A pedagogia liberal iniciou com a educação tradicional, depois passou a se chamar de renovada e não foi uma substituição, pois ambas apresentam-se até hoje nas escolas.
Tradicional
O relacionamento entre professor e aluno praticamente é inexistente, sendo que a disciplina é imposta e deve ser respeitada para que o silêncio e a atenção sejam eficazes. Dessa forma, o aprendizado é repetitivo e mecanizado, sem dinamização e sem levar em conta as características de cada idade.
As avaliações são aplicadas as provas escritas e trabalhos de casa
e o reforço é de forma negativa e punitiva.
Em
relação às tendências pedagógicas, é necessário afirmar que
elas na aparecem puramente aparentes em sua forma, são exclusivas e
ficam restritas de captação das riquezas da prática escolar.
A
classificação das tendências promove uma maneira de análise para
o professor avaliar o seu trabalho em sala de aula.
O
termo liberal não é definido aqui como costumamos ouvir “livre”,
“democrático” ele justifica o sistema capitalista que defendendo
a predominância da liberdade e dos interesses da sociedade. Ela é
uma manifestação individual dessa sociedade, denominada de
sociedade de classes.
Os
conteúdos de ensino são valores e conhecimentos adquiridos pelos
adultos e repassados como verdades e os métodos são exposições
verbais ou demonstração. A ênfase nos exercícios busca
disciplinar a mente e formar uma rotina de hábitos.
Renovada Progressivista
Tem
como finalidade adequar as necessidades individuais do aluno ao meio
social. Os conteúdos são transmitidos pelas experiências de
vivencia e desafios cognitivos, é mais importante aprender a
aprender do que receber o saber propriamente dito.
Seus
métodos de ensino valorizam a busca, a pesquisa, sempre levando em
conta que se deve aprender fazendo. Destaca-se também a importância
do trabalho em grupo como condição para o desenvolvimento mental. A
relação entre professor e aluno visa auxiliar o desenvolvimento
livre da criança e dar sentido ao raciocínio dela.
Renovada Não-diretiva
Preocupa-se
mais com os problemas psicológicos do que pedagógicos, sendo que
transmite como papel a formação de atitudes. A transmissão de
conteúdos torna-se secundária visto que a ênfase é dada para o
desenvolvimento das relações e comunicações. O professor se
esforça para desenvolver um estilo próprio de ensino e assim, os
alunos possam entender facilmente. Entre as relações de professor e
aluno visam garantir um clima autêntico de relacionamento pessoal e
para tanto o professor deixa o aluno a vontade e se ausenta em
respeito ao aluno.
Tecnicista
O
sistema é social, funcional e organizado, modela o comportamento do
aluno através de técnicas específicas. Seu interesse imediato é
produzir mentes competentes para o trabalho. Seus conteúdos de
ensino são as leis, os princípios ordenados numa seqüência lógica
e psicológica pelos especialistas. As relações são estruturadas:
o aluno recebe, aprende e fixa todas as informações. A comunicação
entre o professor e o aluno tem um sentido muito técnico para
garantir a eficácia no aprendizado
Pedagogia Progressista
Parte
de um sentido crítico das análises sociais e sustentam
implicitamente as finalidades sociopolíticas da escola. Tem se
mostrado em três tendências: Libertadora, libertária e
crítico-social dos conteúdos que diferente das outras, acentua a
primazia dos conteúdos em confronto com as realidades sociais.
As
tendências libertadora e libertária tem um sentido muito semelhante
uma da outra, o anti-autoritarismo e a valorização da experiência
vivida como base da relação de educação. Valorizam o processo de
educação em grupo, participações em assembléias e votações
mais do que os conteúdos de ensino.
A
tendência crítico-social dos conteúdos propõe um cronograma que
supera as outras tendências, valorizando as ações pedagógicas. A
escola entende que existe a mediação entre o individual e o social.
O
papel da escola como tarefa primordial é a difusão dos conteúdos,
aqueles que são indissociáveis da realidade social. A própria
escola é mentora na contribuição para eliminar a seletividade e
dar abrangência a democracia. Se a escola é parte integrante do
social, agir dentro dela também faz transformação rumo à
sociedade.
Os
conteúdos de ensino mostram que não basta que os conteúdos sejam
apenas ensinados, mesmo que bem ensinados, é necessário fazer a
mediação à significação humana e social, isto estabelece uma
relação de continuidade que progressivamente passa de informações
soltas para conhecimento sistematizado.
Dessas
considerações percebemos que se pode ir do saber ao engajamento
político e não o contrário, pois existe o risco de afetar a
especificidade do saber e até mesmo cair numa pedagogia ideológica
que é o que tanto critica na pedagogia tradicional.
Evidente
que essa mediação exercida em torno das análises dos conteúdos
exclui a não-diretividade como forma de orientação do trabalho
escolar, pois é desigual o diálogo entre o professor e o aluno.
Através de esforços próprios do aluno, ele se reconhece e o
conhecimento novo se apóia na estrutura cognitiva já existente.
Aprender com a visão da pedagogia dos conteúdos é desenvolver a
capacidade de processar informações e lidar com estímulos.
Resulta
com clareza que o trabalho que a escola realiza precisa de avaliação
como julgamento definitivo e dogmático do professor, mas sem
esquecer-se da comprovação para o aluno do seu progresso.
Biografia
José
Carlos Libâneo, nasceu em Angatuba, interior do estado de São
Paulo, em 1945 e fez seus estudos iniciais e o ensino médio no
Seminário Diocesano de Sorocaba-SP.Graduou-se em filosofia na PUC
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em 1966. MESTRE
da educação escolar brasileira concluído em 1984 e DOUTOR em
educação, posteriormente. Sua dissertação de mestrado em
filosofia da educação mostra sua preocupação com as práticas
pedagógicas. Em sua tese de doutoramento, deixa isso claro e examina
sobre os fundamentos teóricos e práticos do trabalho docente.
Libâneo é bastante conhecido no meio educacional pelas profundas
contribuições teóricas que produz na área. Articula uma reflexão
crítica sobre a natureza histórico-social dos conteúdos de ensino
e a própria didática de transmissão destes conhecimentos. Ele
ensina pesquisa e escreve sobre assuntos de teoria da educação,
Didática, política Educacional e Escola pública. São atualíssimos
os seus conhecimentos e seus compromissos com o projeto político
pedagógico da escola. Iniciou suas atividades profissionais em 1967,
como Diretor do Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental SP,
por seis anos. Por três anos, fundou e dirigiu o Centro de
Treinamento e Formação de Professores da secretaria da Educação
Estadual em Goiânia em 1973. A partir de 1975, tornou-se professor
da faculdade de educação da Universidade Federal de Goiás.
Para
Libâneo as necessidades educativas presentes, tornam a escola um
lugar de mediação cultural, e a pedagogia, ao viabilizar a
educação, é a prática cultural intencional de produção e
internalização de significados. Libâneo é o autor referência da
corrente das tendências pedagógicas, e é partidário da tendência
crítico-social dos conteúdos. Conforme ele, essa tendência
salienta e prioriza os conteúdos culturais universais, que são
incorporados pela humanidade no seu confronto com as realidades
sociais.
Algumas
das principais obras são:
Democratização
da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos -
1985
Aceleração
escolar: estudos sobre educação de adolescentes e adultos – 1976
Organização
e gestão da escola: teoria e prática – 2000
Pedagogia
e pedagogos, para quê? – 2001
Adeus
professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente - 2001 e 2002
Didática,
velhos e novos temas – 2003
Educação
escolar, políticas, estrutura e organização – 2005
Educação
na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade – 2005
