segunda-feira, 10 de junho de 2013

José Carlos Libâneo



Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos

Por: José Carlos Libâneo

Esse texto baseia-se na dura vida dos professores divididos entre o avanço na prática educacional e aceitar a forma tradicional onde se encontram os locais de ensino no país. A escola brasileira tem sido marcada de forma geral pelas tendências liberais, preparando os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, no sentido de reprodução dos valores e normas da sociedade. As tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas.
Os procedimentos didáticos e também os conteúdos, a relação professor e aluno não faz nenhuma relação com a rotina do aluno e muito menos com sua realidade social, portanto, a individualidade e a história desse aluno, são ignorados. O que vemos é a reafirmação, a repetição de um conceito.A tendência Liberal se divide em: Tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. A Pedagogia progressista em: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. Nos últimos 50 anos, a educação brasileira foi marcada pelas tendências liberais, ora conservadora ora renovada. A verdade é que não existem transformações consistentes nessas práticas que são obsoletas e pactuantes com esse sistema social capitalista em que vivemos. A globalização trouxe uma forma de mudança radical e irreversível causando uma enorme mudança o que afetou as estruturas as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva, a produção cultural e principalmente a vida na escola. A globalização não é um quebra-cabeça que se possa resolver com base num modelo preestabelecido e análise da mesma forma que a identidade que se afirma na crise do multiculturalismo ou quando a internet facilita a expressão de identidades prontas para serem usadas.
As tendências pedagógicas foram classificadas em Liberais e progressistas usando como critério a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos das escolas.
A Pedagogia Liberal
Para a pedagogia liberal as escolas devem preparar o aluno para viver em sociedade de acordo com a identidade e aptidão de cada ser. Para tanto precisam aprender a se adaptar às normas e valores que regem a sociedade de classes. Mas mesmo com a idéia de igualdade de oportunidades, a realidade dessas classes é escondida pelo engrandecimento cultural.
A pedagogia liberal iniciou com a educação tradicional, depois passou a se chamar de renovada e não foi uma substituição, pois ambas apresentam-se até hoje nas escolas.
Tradicional
O relacionamento entre professor e aluno praticamente é inexistente, sendo que a disciplina é imposta e deve ser respeitada para que o silêncio e a atenção sejam eficazes. Dessa forma, o aprendizado é repetitivo e mecanizado, sem dinamização e sem levar em conta as características de cada idade.
As avaliações são aplicadas as provas escritas e trabalhos de casa
e o reforço é de forma negativa e punitiva.



Em relação às tendências pedagógicas, é necessário afirmar que elas na aparecem puramente aparentes em sua forma, são exclusivas e ficam restritas de captação das riquezas da prática escolar.
A classificação das tendências promove uma maneira de análise para o professor avaliar o seu trabalho em sala de aula.

O termo liberal não é definido aqui como costumamos ouvir “livre”, “democrático” ele justifica o sistema capitalista que defendendo a predominância da liberdade e dos interesses da sociedade. Ela é uma manifestação individual dessa sociedade, denominada de sociedade de classes.

Os conteúdos de ensino são valores e conhecimentos adquiridos pelos adultos e repassados como verdades e os métodos são exposições verbais ou demonstração. A ênfase nos exercícios busca disciplinar a mente e formar uma rotina de hábitos.

Renovada Progressivista

Tem como finalidade adequar as necessidades individuais do aluno ao meio social. Os conteúdos são transmitidos pelas experiências de vivencia e desafios cognitivos, é mais importante aprender a aprender do que receber o saber propriamente dito.
Seus métodos de ensino valorizam a busca, a pesquisa, sempre levando em conta que se deve aprender fazendo. Destaca-se também a importância do trabalho em grupo como condição para o desenvolvimento mental. A relação entre professor e aluno visa auxiliar o desenvolvimento livre da criança e dar sentido ao raciocínio dela.

Renovada Não-diretiva

Preocupa-se mais com os problemas psicológicos do que pedagógicos, sendo que transmite como papel a formação de atitudes. A transmissão de conteúdos torna-se secundária visto que a ênfase é dada para o desenvolvimento das relações e comunicações. O professor se esforça para desenvolver um estilo próprio de ensino e assim, os alunos possam entender facilmente. Entre as relações de professor e aluno visam garantir um clima autêntico de relacionamento pessoal e para tanto o professor deixa o aluno a vontade e se ausenta em respeito ao aluno.

Tecnicista

O sistema é social, funcional e organizado, modela o comportamento do aluno através de técnicas específicas. Seu interesse imediato é produzir mentes competentes para o trabalho. Seus conteúdos de ensino são as leis, os princípios ordenados numa seqüência lógica e psicológica pelos especialistas. As relações são estruturadas: o aluno recebe, aprende e fixa todas as informações. A comunicação entre o professor e o aluno tem um sentido muito técnico para garantir a eficácia no aprendizado

Pedagogia Progressista

Parte de um sentido crítico das análises sociais e sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da escola. Tem se mostrado em três tendências: Libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos que diferente das outras, acentua a primazia dos conteúdos em confronto com as realidades sociais.
As tendências libertadora e libertária tem um sentido muito semelhante uma da outra, o anti-autoritarismo e a valorização da experiência vivida como base da relação de educação. Valorizam o processo de educação em grupo, participações em assembléias e votações mais do que os conteúdos de ensino.
A tendência crítico-social dos conteúdos propõe um cronograma que supera as outras tendências, valorizando as ações pedagógicas. A escola entende que existe a mediação entre o individual e o social.
O papel da escola como tarefa primordial é a difusão dos conteúdos, aqueles que são indissociáveis da realidade social. A própria escola é mentora na contribuição para eliminar a seletividade e dar abrangência a democracia. Se a escola é parte integrante do social, agir dentro dela também faz transformação rumo à sociedade.
Os conteúdos de ensino mostram que não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, mesmo que bem ensinados, é necessário fazer a mediação à significação humana e social, isto estabelece uma relação de continuidade que progressivamente passa de informações soltas para conhecimento sistematizado.
Dessas considerações percebemos que se pode ir do saber ao engajamento político e não o contrário, pois existe o risco de afetar a especificidade do saber e até mesmo cair numa pedagogia ideológica que é o que tanto critica na pedagogia tradicional.
Evidente que essa mediação exercida em torno das análises dos conteúdos exclui a não-diretividade como forma de orientação do trabalho escolar, pois é desigual o diálogo entre o professor e o aluno. Através de esforços próprios do aluno, ele se reconhece e o conhecimento novo se apóia na estrutura cognitiva já existente. Aprender com a visão da pedagogia dos conteúdos é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com estímulos.
Resulta com clareza que o trabalho que a escola realiza precisa de avaliação como julgamento definitivo e dogmático do professor, mas sem esquecer-se da comprovação para o aluno do seu progresso.


Biografia

José Carlos Libâneo, nasceu em Angatuba, interior do estado de São Paulo, em 1945 e fez seus estudos iniciais e o ensino médio no Seminário Diocesano de Sorocaba-SP.Graduou-se em filosofia na PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em 1966. MESTRE da educação escolar brasileira concluído em 1984 e DOUTOR em educação, posteriormente. Sua dissertação de mestrado em filosofia da educação mostra sua preocupação com as práticas pedagógicas. Em sua tese de doutoramento, deixa isso claro e examina sobre os fundamentos teóricos e práticos do trabalho docente. Libâneo é bastante conhecido no meio educacional pelas profundas contribuições teóricas que produz na área. Articula uma reflexão crítica sobre a natureza histórico-social dos conteúdos de ensino e a própria didática de transmissão destes conhecimentos. Ele ensina pesquisa e escreve sobre assuntos de teoria da educação, Didática, política Educacional e Escola pública. São atualíssimos os seus conhecimentos e seus compromissos com o projeto político pedagógico da escola. Iniciou suas atividades profissionais em 1967, como Diretor do Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental SP, por seis anos. Por três anos, fundou e dirigiu o Centro de Treinamento e Formação de Professores da secretaria da Educação Estadual em Goiânia em 1973. A partir de 1975, tornou-se professor da faculdade de educação da Universidade Federal de Goiás. 
Para Libâneo as necessidades educativas presentes, tornam a escola um lugar de mediação cultural, e a pedagogia, ao viabilizar a educação, é a prática cultural intencional de produção e internalização de significados. Libâneo é o autor referência da corrente das tendências pedagógicas, e é partidário da tendência crítico-social dos conteúdos. Conforme ele, essa tendência salienta e prioriza os conteúdos culturais universais, que são incorporados pela humanidade no seu confronto com as realidades sociais.
Algumas das principais obras são: 

Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos - 1985 

Aceleração escolar: estudos sobre educação de adolescentes e adultos – 1976 

Organização e gestão da escola: teoria e prática – 2000 

Pedagogia e pedagogos, para quê? – 2001 

Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente - 2001 e 2002 

Didática, velhos e novos temas – 2003 

Educação escolar, políticas, estrutura e organização – 2005 

Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade – 2005 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Isabel Alarcão


Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva

Nesta obra a autora Isabel Alarcão nos apresenta a importância da interação entre escola, professor e a comunidade no processo de ensino-aprendizagem, a necessidade da auto-avaliação e reflexão do professor e da escola durante a caminhada no seu processo educativo interagindo e somando esforços no objetivo de encontrar novas soluções para os problemas vivenciados no seu cotidiano escolar, mostrando as competências exigidas aos professores em se tratando do alargamento das fronteiras na busca pelo conhecimento e metodologias que permitam prestar um ensino de qualidade enfatizando bem a posição da escola, do professor e do aluno perante as exigências da sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem.


A FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO PARA E NUMA ESCOLA REFLEXIVA NUMA SOCIEDADE DE APRENDIZAGEM


A Sociedade da informação em que vivemos exige competências de acesso, analise e gestão da informação oferecida. A escola tem papel fundamental na aquisição, reconhecimento e desenvolvimento dessas competências, refletindo e buscando soluções a fim de minimizar as diferenças de acesso a informação e promovendo a igualdade de oportunidades para todos, evitando a exclusão social, ou seja, a info-exclusão.
Devido às dificuldades que o cidadão comum tem em administrar a avalanche de informações, novas idéias e oportunidades, desafios e ameaças que o cercam, é necessário que um mundo tão rico em informações estimule o desenvolvimento do poder clarificador do pensamento, porque a informação quando não organizada, não se constitui em conhecimento, não é saber, e não se traduz em poder, Alarcão,2003.
É imprescindível sistematizar os conhecimentos que buscamos, pois precisamos ter noção do que procuramos e onde podemos buscar essas informações. De posse desses subsídios, é necessário interpretar, sistematizar, distinguir o que é ou não relevante, filtrar e selecionar somente aquilo que nos servirá de base para a aprendizagem.
Só o pensamento pode organizar o conhecimento. Para conhecer é preciso pensar e ao invés de uma cabeça bem cheia reclama-se uma cabeça bem feita, (Morin, 2000). E uma cabeça bem feita é aquela que é capaz de converter a informação em conhecimento pertinente. A escola precisa possibilitar o desenvolvimento da capacidade de discernir entre a informação correta ou incorreta, pertinente ou supérflua. É urgente a necessidade de desenvolvermos a habilidade de estabelecer o pensamento aliado a ação em função da informação e para isso é necessário reavaliar a maneira como as informações são repassadas e como elas são processadas pelos alunos, é preciso reaprender a aprender. Uma cabeça bem feita é aquela que é capaz de transformar a informação em conhecimento pertinente.
Neste processo de constante troca que é o ensino-aprendizagem a escola não se apresenta como a detentora do saber, más como organização que apresenta um sistema de ensino aberto pensante e flexível. Sistema aberto sobre si mesmo, e aberto a comunidade na qual está inserida, o professor neste contexto não é o único transmissor do saber e necessita se situar neste novo papel que exigirá cada vez mais dele.
O aluno já não é mais aquele que está ali somente para receber as informações e se encher dos conteúdos que são apresentados. O seu novo papel também lhe acrescenta novas exigências. Ele terá que aprender a administrar as informações apresentadas e relacioná-las para as transformações no seu conhecimento e no seu saber.
A sala de aula deixou de ser um espaço onde se transmitem conhecimentos, passando a ser um espaço onde se procura e onde se produz conhecimento, (Demo), apud,Alarcão,2003.”
O ensino é voltado para o desenvolvimento da capacidade do aluno de avaliar e administrar o andamento dos seus estudos, possibilitando ao aluno ser diretamente responsável pela construção do conhecimento adquirido e pela sua aprendizagem democratizando assim o ensino.
A sociedade da aprendizagem exige que o aluno desenvolva a capacidade de utilizar e recriar o conhecimento, questionando,experimentando, indagando, construindo um pensamento próprio, desenvolvendo meios de auto-aprendizagem, administrando a sua vida individual e em grupo, sem anular a sua identidade. Portanto, se faz necessário se adaptar e desenvolver habilidades que o capacite a lidar com situações inesperadas, assumindo responsabilidades, resolvendo problemas, aceitando os outros e trabalhando em cooperação alargando seus horizontes temporais e geográficos, capacitando-o a exercitar a comunicação, interação, estimulando-o a fortalecer a capacidade de autoconhecimento e auto-estima.
Numa sociedade que está em constante processo de aprendizado e desenvolvimento, ser aluno é ser aprendente e interagir constantemente com as oportunidades que o mundo lhe oferece, e estar em constante processo de aprender a aprender ao longo da vida, influenciar e ser influenciado interagindo de forma significativa no meio em que vive.
Na sociedade de aprendizagem é papel dos professores criarem, estruturar e dinamizar situações que incitem a aprendizagem e a autoconfiança nas aptidões individuais que cada aluno possui. O grande desafio dos professores é ampliar nos alunos a habilidade de trabalho autônomo e colaborativo, desenvolvendo o espírito crítico. Nesse contexto, os professores são estruturadores e incentivadores da aprendizagem e não estruturadores do ensino.
Para que o professor se identifique nessa sociedade de aprendizagem se torna necessário repensar o seu papel, recontextualizar a sua identidade e responsabilidade profissional e se considerar em um firme processo de autoformação e identificação profissional, ser um professor reflexivo numa sociedade profissional reflexiva.
A escola reflexiva busca formar professores que sejam seres pensantes, intelectuais e capazes de administrar sua ação profissional, é também papel da escola avaliar e questionar a si própria como agência de ensino. A atitude de reflexão constante na escola e nos professores manterá presente a importante questão da função que o professores e a escola desempenham na sociedade, ajudando a buscar soluções, resolver problemas por meio da metodologia da pesquisa-ação constituindo um processo de mudança social e planejada. Através da pesquisa-ação, do desenvolvimento da capacidade de reflexão, o questionamento dos outros fatores educativos, o confronto de opiniões e abordagens, a auto-observação, a supervisão colaborativa, as perguntas pedagógicas e outras estratégias, a escola poderá ser bem sucedida na busca pelo desenvolvimento da formação de professores reflexivos e numa escola reflexiva.
A mudança de que a escola precisa é uma mudança padigmática. Porém, para mudá-la, é preciso mudar o pensamento sobre ela. É preciso refletir sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogo com os problemas e as frustrações, os sucessos e os fracassos, mas também em diálogo com o pensamento próprio e o dos outros, (ALARCÃO, Isabel, 2001)


Referência Bibliográfica
ALARCÂO, Isabel. Professores Reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.


Biografia
Nasceu em 09 de março de 1940 em Coimbra Portugal, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Exerceu a docência do ensino secundário durante sete anos tendo sido também orientadora de estágios. Esta experiência despertou-a para a relevância da formação de professores, temática que aprofundou no Mestrado em Curriculum and Instruction que realizou na Universidade do Texas, em Austin, estados Unidos da América, em 1974- 75. Doutorada em Educação.
Trabalho Profissional
Avançou o conceito de tríptico didático (1997) para designar a tripla dimensão ou a multidimensionalidade da didática Investigativa (diz respeito ao trabalho do investigador nesta disciplina), a didática curricular (refere-se a formação curricular, inicial e ou contínua, em didáticas dos formadores e futuros formadores) e a didática profissional (refere-se as práticas dos professores no terreno escolar).

Publicações
Alarcão,(1994), “ A didática curricular na formação de professores” in A. estrela e J. Ferreira.
(Org.), desenvolvimento curricular e didáctica das disciplinas Actas do IV Colóquio Naional da secção Portuguesa da Association Internationale de Recherche en Sciences de L’Éducation. Lisboa: AFIRSE?AIPELF.
Alarcão , I . (2001), “ Novas Tendências nos paradigmas de investigação em educação”.
Alarcão, (Org), escola Reflexiva e Nova Racionalidade.Porto Alegre, Artmed Editora.
Alarcão, I. ET. AL. (2004) Percursos de Consolidação da didactica de Linguas em Portugal.